A Discriminação Condicional Complexa (DCC) e o Ensino da Leitura

Linha do Tempo: Da Discriminação Condicional à Equivalência

A Discriminação Condicional (DC) foi estudada desde os anos 1960, em experimentos de matching-to-sample, em que o indivíduo precisa escolher o estímulo correto em função do estímulo-modelo. Esse procedimento foi a base para a investigação de fenômenos mais complexos.

A partir de Sidman (1971), com estudo realizado com uma criança com deficiência intelectual, surgiu o conceito formal de equivalência de estímulos. Posteriormente, Sidman e Tailby (1982) definiram as propriedades de reflexividade, simetria e transitividade. Portanto, primeiro veio a Discriminação Condicional como base experimental, e a equivalência foi identificada como fenômeno derivado.

O que é Discriminação Condicional Complexa?

A DCC ocorre quando a resposta correta depende de uma condição estabelecida por outro estímulo. Por exemplo, se o professor fala a palavra “MALA” e apresenta várias figuras, a criança deve escolher a figura correspondente. Esse tipo de treino possibilita que surjam novas relações não diretamente ensinadas, como relacionar palavra escrita e figura.

Por que a DCC é Fundamental para a Leitura?

No ensino da leitura, a DCC é fundamental porque permite que o aluno aprenda a relacionar fala, escrita e figuras. Assim, a criança não apenas decodifica letras, mas passa a compreender o significado do que lê. Esse processo garante que a leitura seja mais do que repetição mecânica, envolvendo compreensão e generalização.

Exemplos Práticos

  • Exemplo 1: Palavra “MALA”. O terapeuta apresenta o estímulo auditivo (palavra falada) e a criança deve escolher entre várias opções a palavra escrita “MALA” ou a figura correspondente. A criança, a partir do treino de relações auditivo-visuais, passa a ler novas palavras formadas pela recombinação de sílabas já aprendidas, posteriormente, ‘’LAMA’’. Esse processo é chamado de leitura recombinativa.

Base Científica e Evidências Empíricas

A DCC e a equivalência de estímulos foram amplamente descritas por Sidman e Tailby (1982), mostrando que relações ensinadas podem gerar novas relações automaticamente. No Brasil, estudos como o de Leite e Hübner (2009) reforçam essa perspectiva ao demonstrarem que crianças em idade pré-escolar, sem ensino formal de leitura, puderam ler novas palavras a partir do treino de discriminações condicionais.

Além disso, Medeiros (2011) investigou a DCC como método para ensinar crianças a ler em situação coletiva de sala de aula, mostrando que o procedimento pode ser aplicado em contextos escolares, com impacto positivo sobre leitura de generalização.

Procedimento de Ensino em Sala de Aula

O estudo de Medeiros (2011) utilizou procedimentos de exclusão e treino de relações condicionais entre palavras ditadas, escritas e figuras. As etapas incluíam pré-testes, ensino coletivo e individual, atividades de montagem de palavras e testes de equivalência.

Os resultados mostraram que crianças que participaram do ensino coletivo tiveram desempenho superior em leitura de palavras novas em comparação às que participaram apenas de ensino individual. Esse achado sugere que o contexto social também favorece a aprendizagem e a generalização.

Resultados e Discussão

Os dados obtidos por Medeiros (2011) mostram que a DCC em situação coletiva é eficaz não apenas para ensinar palavras específicas, mas também para facilitar a emergência da leitura de novas palavras. As crianças que participaram do procedimento coletivo apresentaram índices mais altos de leitura correta em testes de retenção e generalização, demonstrando o potencial do método para ampliar o repertório de leitura.  Isso demonstra que a DCC pode ser aplicada como estratégia pedagógica em escolas, tornando o processo de alfabetização mais eficiente e menos frustrante.

Conclusão

A Discriminação Condicional Complexa, aliada ao paradigma da equivalência de estímulos, é uma ferramenta poderosa para o ensino da leitura. Sua aplicação demonstra eficiência, compreensão e inclusão, podendo ser usada em diferentes contextos e com diversos públicos. Graças às contribuições de pesquisadores internacionais e brasileiros, já é possível vislumbrar um ensino de leitura mais eficaz e acessível.

Referências

Leite, L. P., & Hübner, M. M. C. (2009). Ensino de leitura recombinativa: uma contribuição da análise do comportamento para a alfabetização. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 25(4), 531-540.

Medeiros, J. G. (2011). A discriminação condicional como método para ensinar crianças a ler em situação coletiva de sala de aula. Psicologia: Teoria e Prática, 13(2), 30-49.

Sidman, M. (1971). Reading and auditory-visual equivalences. Journal of Speech and Hearing Research, 14(1), 5-13.

Sidman, M., & Tailby, W. (1982). Conditional discrimination vs. matching-to-sample: An expansion of the testing paradigms. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 37(1), 5-22.

Autor do post:
Laryssa Bonifácio – Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Institucional e Coordenadora ABA.

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