AUTODIAGNÓSTICO DE TEA NAS REDES SOCIAIS: UM ALERTA NECESSÁRIO

Há um lado positivo nisso: a democratização da informação, o acolhimento de vivências diversas e o estímulo ao autoconhecimento. No entanto, o aumento do autodiagnóstico de TEA com base apenas em conteúdo online também traz preocupações sérias. Existem riscos desse fenômeno, o que de fato caracteriza o TEA e como agir de forma ética e cuidadosa quando nos identificamos com essas características

 

  • RISCOS DO AUTODIAGNÓSTICO

Apesar de parecer inofensivo, o autodiagnóstico de TEA pode trazer impactos significativos à saúde mental e ao entendimento coletivo do transtorno. Um dos primeiros riscos é a redução do autismo a estereótipos. Muitos conteúdos nas redes sociais apresentam o TEA de forma simplificada, relacionando-o apenas à introversão, interesses intensos ou sensibilidade sensorial. Isso ignora a complexidade do espectro e contribui para desinformações.

Outro ponto crítico é a confusão diagnóstica. Características como sobrecarga sensorial, dificuldade de socialização ou rigidez de pensamento também estão presentes em outras condições, como ansiedade, TDAH, TOC e até traumas psicológicos vividos. Sem avaliação profissional, é possível que alguém se identifique erroneamente com o autismo e deixe de receber o suporte adequado para outras questões.

Além disso, há riscos como a desvalorização do diagnóstico formal, que é um direito e uma ferramenta importante para adaptações, inclusão e acesso a recursos de apoio. No autodiagnóstico, tudo é assumido e presumido de forma apressada, e essa pressa deslegitima a vivência de pessoas realmente diagnosticadas, que passaram por processos longos, difíceis e muitas vezes dolorosos de compreensão, laudo e aceitação.

  • TEA É UM TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO COMPLEXO

O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação social, a interação e o comportamento desde a infância, ainda que nem sempre seja percebido precocemente.

De acordo com o DSM-5 que é p Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (American Psychiatric Association, 2013), o TEA envolve, entre outros: Déficits persistentes na comunicação e interação social; Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades einício precoce dos sintomas, mesmo que os sinais fiquem evidentes somente mais tarde.

O espectro é amplo, variando desde pessoas com necessidades de suporte mais intensas até aquelas com alta funcionalidade. Por isso, é impossível definir ou reconhecer um autista com base em apenas alguns vídeos ou listas de características.

Além disso, o diagnóstico exige que se leve em consideração a história de desenvolvimento desde a infância; o funcionamento adaptativo em diferentes contextos (escola, trabalho, relações); e a presença de outras condições associadas, como TDAH, ansiedade ou dificuldades sensoriais, se for o caso.

Identificar-se com relatos e informações sobre o autismo é legítimo — e pode, inclusive, ser um importante passo no processo de autoconhecimento. No entanto, é fundamental entender que identificação não é diagnóstico. O caminho mais seguro é buscar uma avaliação profissional especializada, com psicólogos, psiquiatras ou neurologistas, pois estes utilizam critérios clínicos e ocorre um processo é cuidadoso que considera toda a trajetória da pessoa, incluindo sua infância, contexto familiar, escolar e atual. O mais importante é entender que o diagnóstico formal pode ser um importante facilitador para cuidados mais efetivos, adaptações e pertencimento.

 

 

  • CONCLUSÃO

O aumento do interesse pelo autismo nas redes sociais é reflexo de um movimento legítimo por mais escuta, mais compreensão e mais pertencimento. No entanto, a banalização do autodiagnóstico pode ser prejudicial, tanto individualmente quanto socialmente. Autoconhecimento é essencial, mas ele se torna ainda mais potente quando acompanhado de cuidado, responsabilidade e ciência. Se você se identificou com conteúdo sobre o Transtorno do Espectro Autista, acolha-se e dê o próximo passo com o apoio certo. Afinal, entender quem somos é uma jornada que merece ser feita com respeito, e não com pressa.

Referências: 
American Psychiatric Association. (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — DSM-5. Artmed..
Frith, U. (2008). Autism: Explaining the Enigma. Wiley-Blackwell.
Rede Nacional Primeira Infância (RNPI). (2021). TEA na Primeira Infância: sinais, avaliação e diagnóstico precoce.

Autor do post:
Laryssa Bonifácio – Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Institucional e Coordenadora ABA.

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