Viajar em família é um momento de alegria, descanso e criação de memórias. No entanto, para famílias atípicas, especialmente aquelas que convivem com crianças autistas, esse período pode trazer desafios específicos relacionados à quebra da rotina, mudanças sensoriais e novos ambientes. É natural que o tema “viagens” seja delicado para muitas famílias neurodivergentes. Questões como o estresse de dormir fora de casa, experimentar alimentos diferentes, lidar com transportes e ambientes desconhecidos podem gerar preocupação.
Contudo, com as estratégias certas, os benefícios da viagem superam os desafios. Além de proporcionar momentos importantes de lazer e fortalecimento dos vínculos familiares, as viagens também oferecem estímulos novos e oportunidades valiosas de aprendizado para as crianças autistas.
Neste artigo, compartilhamos 6 dicas essenciais que podem tornar a experiência de viajar com crianças autistas mais leve, previsível e acolhedora.
Por que viajar pode ser desafiador para crianças autistas?
A maioria das crianças autistas apresenta alguma dificuldade em lidar com a quebra da rotina. A rotina, para elas, é uma poderosa ferramenta de regulação emocional e comportamental, proporcionando previsibilidade e segurança ao longo do dia.
E justamente aí está um dos principais desafios das viagens: sair de casa, lidar com imprevistos, não ter todos os objetos familiares por perto e participar de atividades diferentes. Por isso, preparar-se adequadamente é fundamental.
Dica 1: Comunique a viagem com antecedência
Um dos erros mais comuns é surpreender a criança com a viagem, sem dar tempo para que ela compreenda o que vai acontecer. Muitas famílias conversam sobre o planejamento entre si, mas evitam incluir a criança por medo de gerar ansiedade.
Na verdade, antecipar a viagem ajuda a reduzir o estresse. Fale sobre o passeio com antecedência e mostre imagens do transporte, do local onde vão ficar, das pessoas que vão encontrar e das atividades que realizarão.
Se a família nunca visitou o local, uma dica é procurar fotos, vídeos ou até mesmo mapas na internet. Recursos visuais, como pranchas de flexibilidade ou histórias sociais, são ótimos aliados nesse processo.
Dica extra: no site do Instituto Singular há uma história social sobre viagens disponível gratuitamente.
Dica 2: Comece com passeios menores
Se a criança não está habituada a viajar ou a sair muito de casa, o ideal é começar com experiências mais curtas, como ir a um restaurante do bairro ou visitar um parque na cidade vizinha.
Esses passeios ajudam a identificar os sinais de desconforto que a criança pode apresentar em ambientes diferentes e permitem que a família se prepare melhor para viagens de maior duração ou distância.
Dica 3: Utilize cronogramas e calendários visuais
Na medida em que a viagem se aproxima, use recursos visuais para criar previsibilidade.
Você pode, por exemplo, imprimir fotos dos lugares que irão visitar, do meio de transporte e do hotel. Faça um calendário de contagem regressiva: marque quantos dias faltam e vá preenchendo com a criança até chegar o grande dia.
Esse tipo de preparação ajuda a criança a entender e antecipar cada etapa, proporcionando segurança e diminuindo comportamentos de resistência ou ansiedade.
Dica 4: Leve objetos familiares e recursos sensoriais
Viajar com criança requer planejamento, e com crianças autistas esse cuidado deve ser ainda maior.
Leve pelo menos três objetos que a criança goste muito e que tragam conforto emocional, como brinquedos favoritos, livros, cobertores ou outros itens importantes.
Não se esqueça também dos recursos que ajudam na regulação sensorial:
- Protetores auriculares ou fones de ouvido para ambientes ruidosos;
- Roupas ou acessórios que proporcionem conforto tátil;
- Brinquedos calmantes ou de estimulação sensorial.
Esses itens podem fazer toda a diferença em momentos de sobrecarga.
Dica 5: Mantenha parte da rotina
Mesmo fora de casa, tente preservar alguns elementos da rotina da criança, como o horário de acordar, refeições e, se possível, atividades de regulação que já fazem parte do dia a dia.
Manter esses aspectos ajuda a criança a se sentir mais segura e contribui para um melhor bem-estar durante a viagem.
Dica 6: Respeite e faça valer os direitos da criança autista
Lembre-se: crianças autistas têm direito ao atendimento preferencial em diversos ambientes, como aeroportos, filas, restaurantes e estabelecimentos turísticos.
Para garantir esse direito, é importante ter sempre em mãos documentos como o laudo médico ou o CIP-TEA (Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista).
Esse direito pode evitar situações desgastantes e minimizar o estresse em momentos potencialmente desafiadores da viagem.
Dica bônus: Aproveite o momento!
Por fim, nunca se esqueça de que sua criança vai muito além do diagnóstico. Ela também quer explorar, brincar e se divertir.
Com as adaptações certas e respeitando os limites e as necessidades dela, viajar pode ser uma experiência incrível e transformadora para toda a família.
Se você gostou dessas dicas, compartilhe este artigo com outras famílias que podem se beneficiar dessas orientações!
Se tiver dúvidas ou quiser compartilhar sua experiência, deixe um comentário ou entre em contato conosco.
Boa viagem!
Autor do post:
Bruna Araújo – Pedagoga, especialista em Análise do Comportamento Aplicada e Coordenadora ABA.
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