Impulsividade no TDAH: entendendo o impacto nas decisões e as possibilidades de cuidado com avaliação médica individualizada

É importante compreender que esses comportamentos não refletem falta de esforço, má vontade ou ausência de limites. A impulsividade no TDAH está associada a dificuldades nos processos de autorregulação e controle inibitório, ou seja, na habilidade de pausar antes de agir e considerar alternativas possíveis.

Como a impulsividade interfere na tomada de decisão

Crianças impulsivas tendem a responder rapidamente aos estímulos do ambiente, buscando soluções imediatas e, muitas vezes, escolhendo opções menos vantajosas no médio ou longo prazo. Isso pode se manifestar em situações como interromper adultos, agir sem pensar em regras combinadas, ter dificuldade de esperar a vez, reagir de forma intensa diante de frustrações ou fazer escolhas precipitadas em contextos sociais e escolares.

Essas dificuldades impactam diretamente a tomada de decisão, não porque a criança não saiba o que é esperado, mas porque, no momento da ação, o impulso se sobrepõe à reflexão.

Intervenções possíveis e o papel da avaliação médica

O cuidado com crianças com TDAH envolve diferentes estratégias, que podem incluir orientação familiar, intervenções comportamentais, adaptações escolares e, em alguns casos, avaliação médica especializada. A escolha das intervenções depende da intensidade dos sintomas, do impacto funcional na vida da criança e das características individuais de cada caso.

Em determinadas situações, após avaliação criteriosa, o médico pode considerar a possibilidade de tratamento medicamentoso. Estudos científicos indicam que alguns medicamentos podem reduzir sintomas como impulsividade e desatenção, o que, para algumas crianças, favorece maior capacidade de controle comportamental e acesso a habilidades já ensinadas. No entanto, essa não é uma decisão automática nem padronizada.

A indicação, o início, a manutenção ou a suspensão de qualquer medicação devem ocorrer exclusivamente a partir da avaliação de um psiquiatra infantil ou neuropediatra que conheça a criança, seu histórico clínico, seu contexto familiar e escolar e acompanhe sua evolução ao longo do tempo.

Medicação não é regra nem solução isolada

É fundamental reforçar que a medicação não é obrigatória para todas as crianças com TDAH, nem deve ser entendida como solução única. Muitos casos podem ser conduzidos com intervenções não farmacológicas, enquanto outros podem se beneficiar de um cuidado combinado, sempre com monitoramento médico contínuo.

Quando considerada, a medicação não tem como objetivo “mudar quem a criança é”, mas, em alguns casos, reduzir a intensidade de sintomas que dificultam o aprendizado, a convivência e a tomada de decisões mais ajustadas. Mesmo nesses contextos, o trabalho com habilidades comportamentais, emocionais e sociais continua sendo indispensável.

A importância de decisões compartilhadas e individualizadas

O manejo do TDAH deve ser construído de forma compartilhada entre família, escola, profissionais terapêuticos e equipe médica. Decisões responsáveis levam em conta evidências científicas, observação clínica, escuta dos cuidadores e respeito às particularidades de cada criança.

Não existe uma única abordagem válida para todos. O que existe é a necessidade de avaliação cuidadosa, ética e individualizada, especialmente quando se considera qualquer intervenção médica.

A impulsividade no TDAH é uma dificuldade real, com impacto direto na tomada de decisões no dia a dia da criança. Compreender esse funcionamento é o primeiro passo para oferecer apoio adequado. Entre as possibilidades de cuidado, a avaliação médica especializada pode, em alguns casos, levantar a discussão sobre o uso de medicação, sempre de forma criteriosa, individualizada e acompanhada.

O mais importante é que cada criança seja avaliada em sua singularidade, com decisões baseadas em evidências, acompanhamento profissional e diálogo constante com a família.

 

 

 

 

 

Referências

DeVito EE, Blackwell AD, Clark L, et al. (2008).
The effects of methylphenidate on decision making in attention deficit hyperactivity disorder. Neuropsychopharmacology, 33(8), 1949–1956. Link: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC2577132/

DeVito EE, Blackwell AD, Kent L, et al. (2009).
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Cortese S, et al. (2018).
Comparative efficacy and tolerability of medications for attention deficit hyperactivity disorder in children and adolescents. The Lancet Psychiatry, 5(9), 727–738. Link: https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(18)30269-4/fulltext

 

Autor do post:

Me. Amanda de Oliveira – Psicóloga (CRP: 13/9360), Pós Graduada em Clínica Analítico Comportamental, mestre em Psicologia Social.

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