O PEAK (Promoting the Emergence of Advanced Knowledge) é um instrumento inovador desenvolvido para avaliação e intervenção em habilidades cognitivas e de linguagem. Baseado nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), ele combina teorias comportamentais clássicas e avanços recentes na ciência do comportamento. O objetivo central do PEAK é promover o desenvolvimento de repertórios comportamentais complexos, proporcionando a indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outros atrasos no desenvolvimento a oportunidade de expandir suas habilidades de comunicação, cognição e interação social.
Este protocolo vai além do ensino tradicional de habilidades básicas, focando na construção de repertórios avançados, como generalização, equivalência de estímulos e relações complexas. Essa abordagem abrangente permite que o PEAK seja utilizado em diversas faixas etárias e níveis de desenvolvimento, tornando-se uma ferramenta valiosa para terapeutas, educadores e outros profissionais que trabalham no desenvolvimento de indivíduos com necessidades especiais.
- Estrutura do PEAK
O PEAK é estruturado em quatro módulos principais, que juntos abrangem desde habilidades básicas até repertórios comportamentais avançados. Cada módulo aborda aspectos específicos do desenvolvimento, criando um sistema integrado e progressivo para avaliação e intervenção. A seguir, estão os módulos que compõem o PEAK:
1. Treino Direto (Direct Training – DT)
O módulo DT foca no ensino direto de habilidades específicas. Ele utiliza instruções explícitas para ensinar comportamentos novos que não fazem parte do repertório atual do indivíduo. O Treino Direto é baseado em princípios básicos da ABA, como o uso de reforçamento positivo, encadeamento e repetição, para garantir que as habilidades ensinadas sejam adquiridas de forma consistente.
2. Generalização (Generalization – G)
Este módulo é projetado para avaliar e promover a transferência das habilidades aprendidas para diferentes contextos, pessoas, e estímulos. Ele reconhece que ensinar uma habilidade em um ambiente controlado não é suficiente e trabalha para garantir que o aprendizado seja útil no mundo real. O módulo de generalização é essencial para a aplicação prática do que foi aprendido, maximizando a independência do indivíduo.
3. Equivalência de Estímulos (Equivalence – E)
Este módulo se concentra no desenvolvimento de classes de estímulos equivalentes. Através do ensino de relações entre estímulos (por exemplo, correspondência entre palavras faladas, escritas e imagens), ele ajuda a criar repertórios mais amplos a partir de um conjunto limitado de ensinamentos. Isso facilita a aprendizagem de conceitos abstratos e promove a compreensão relacional.
4. Transformação de Estímulos (Transformation – T)
O módulo de transformação aplica os princípios da Teoria das Molduras Relacionais (Relational Frame Theory – RFT), trabalhando com relações complexas e abstratas entre estímulos. Ele expande o repertório comportamental ao ensinar relações de comparação, hierarquia, causalidade, entre outras, que são fundamentais para o desenvolvimento da linguagem e da cognição avançada. Esse módulo é especialmente útil para fomentar habilidades mais sofisticadas, como raciocínio e solução de problemas.
Esses quatro módulos interligados permitem que o PEAK aborde o desenvolvimento de habilidades em uma perspectiva ampla e progressiva, adaptando-se às necessidades específicas de cada indivíduo e promovendo resultados mais abrangentes e duradouros.
- Fundamentação Teórica
O PEAK se baseia em uma sólida fundamentação teórica, integrando conceitos da ABA com avanços no campo do comportamento verbal, equivalência de estímulos e RFT. Essa combinação permite que o protocolo vá além das intervenções tradicionais, oferecendo uma abordagem inovadora para o ensino de habilidades complexas.
A base do PEAK está nos princípios do comportamento verbal descritos por B.F. Skinner. No modelo de Skinner, o comportamento verbal é analisado em termos de suas funções e não de sua forma, destacando unidades como mandos (pedidos), tatos (descrições), ecoicos (imitações verbais), intraverbais (respostas verbais a outros estímulos verbais). O PEAK incorpora esses conceitos ao criar programas que ensinam essas unidades verbais de forma sistemática, promovendo habilidades de comunicação essenciais para o desenvolvimento de repertórios mais complexos.
O PEAK também utiliza a teoria da equivalência de estímulos, que descreve como diferentes estímulos podem ser relacionados entre si para formar classes equivalentes. Por exemplo, ensinar que uma imagem de um “gato”, a palavra escrita “gato” e a palavra falada “gato” são inter-relacionadas. Esse processo facilita a aquisição de novas habilidades sem a necessidade de ensiná-las diretamente, economizando tempo e esforço no processo de ensino.
Um dos aspectos mais inovadores do PEAK é a integração da RFT, que expande os conceitos de equivalência de estímulos para incluir relações mais complexas, como relações de comparação (maior, menor), hierarquia (parte e todo), causalidade (se/então) e temporalidade (antes/depois). A RFT é central no módulo de transformação do PEAK, permitindo o ensino de relações abstratas que são cruciais para o desenvolvimento da linguagem avançada e do pensamento complexo. Esse diferencial coloca o PEAK em um patamar elevado, permitindo que ele aborde não apenas habilidades práticas, mas também o desenvolvimento de capacidades cognitivas superiores.
Ao combinar esses fundamentos teóricos, o PEAK se destaca como uma ferramenta abrangente, que não apenas ensina habilidades pontuais, mas também cria as bases para o aprendizado contínuo e adaptativo. Essa abordagem integrada transforma o PEAK em um protocolo capaz de atender a indivíduos com diferentes perfis e necessidades, garantindo resultados que transcendem o ensino básico.
- Aplicabilidade e Populações Alvo
O PEAK tem demonstrado eficácia no ensino de habilidades para diferentes populações, incluindo pessoas com TEA, síndrome de Down, deficiência intelectual e outros atrasos no desenvolvimento. Sua estrutura flexível e abrangente permite que seja utilizado para abordar uma ampla gama de habilidades, desde repertórios básicos até competências mais avançadas, como raciocínio e resolução de problemas.
Áreas de Aplicação
Habilidades Acadêmicas: O PEAK é utilizado para ensinar conceitos matemáticos, habilidades de leitura e escrita, e outras competências acadêmicas necessárias para o sucesso escolar.
Habilidades Sensoriais: Por meio de atividades que integram estímulos sensoriais, o protocolo ajuda indivíduos a regular suas respostas ao ambiente.
Linguagem Complexa: Com foco no desenvolvimento de competências verbais e relacionais, o PEAK promove avanços significativos na comunicação funcional e na construção de repertórios linguísticos mais sofisticados.
- Diversidade de Contextos
O PEAK é aplicado em clínicas, escolas e ambientes domiciliares, sendo adaptável às necessidades específicas de cada indivíduo. Essa versatilidade permite que ele seja implementado por terapeutas, educadores e cuidadores, oferecendo resultados positivos em diferentes configurações.
A Revista Perspectivas destaca a aplicabilidade do PEAK como uma ferramenta que vai além do ensino tradicional, atendendo a um público diversificado e contribuindo para o desenvolvimento integral de indivíduos com necessidades especiais.
Eficácia e Evidências Científicas
Estudos realizados sobre o PEAK têm evidenciado sua eficácia na promoção de habilidades cognitivas, linguísticas e sociais em diferentes populações. Pesquisas mostram que o protocolo não apenas facilita a aquisição de habilidades diretamente ensinadas, mas também promove a generalização para novos contextos e situações.
Resultados de Pesquisas
Promoção de Habilidades Cognitivas: O PEAK tem sido eficaz no desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas e relações abstratas, especialmente no módulo de transformação, que utiliza a Teoria das Molduras Relacionais (RFT).
Impacto na Comunicação Verbal: Estudos indicam que o protocolo melhora significativamente as competências verbais, aumentando a independência comunicativa.
Generalização: Os resultados apontam que habilidades aprendidas com o PEAK são generalizadas para diferentes contextos, demonstrando a profundidade do aprendizado promovido pelo protocolo.
- Necessidade de Estudos Independentes
Apesar das evidências positivas, é importante destacar que grande parte dos estudos sobre o PEAK foi conduzida pelos próprios desenvolvedores ou equipes associadas. Assim, há uma necessidade de mais pesquisas independentes que avaliem sua eficácia em diferentes contextos, populações e faixas etárias. Isso ajudará a fortalecer ainda mais a base científica do protocolo e a consolidar seu uso como uma ferramenta padrão em intervenções comportamentais.
Esses achados ressaltam o potencial do PEAK como um recurso inovador e eficaz para o ensino de habilidades complexas, ao mesmo tempo em que reforçam a importância de sua validação contínua por meio de pesquisas rigorosas.
- Conclusão
O PEAK se destaca como uma ferramenta abrangente e inovadora, oferecendo uma abordagem baseada em evidências para o desenvolvimento de repertórios comportamentais e habilidades complexas em indivíduos com TEA e outros atrasos no desenvolvimento. Ele integra princípios sólidos da ABA com avanços teóricos em equivalência de estímulos e Teoria das Molduras Relacionais, promovendo resultados significativos na comunicação, cognição e generalização de habilidades.
Sua estrutura modular permite atender uma ampla gama de necessidades, desde habilidades básicas até competências avançadas, tornando-o adaptável a diferentes perfis e idades. No entanto, desafios como a necessidade de mais estudos independentes e a avaliação de sua aplicabilidade em contextos variados apontam para áreas de melhoria e expansão.
O PEAK representa uma contribuição valiosa para o campo da intervenção comportamental, ajudando profissionais a impactar positivamente a vida de indivíduos com necessidades especiais. Com contínuos avanços na pesquisa e no treinamento, seu potencial como ferramenta de avaliação e ensino se tornará ainda mais sólido, beneficiando cada vez mais pessoas e promovendo um aprendizado significativo e duradouro.
Referência
SILVA, Mateus Henrique; GARCIA, Larissa Dias; TAVARES, Renata Marques. PEAK: Revisão de literatura das intervenções baseadas em equivalência de estímulos e RFT para pessoas com desenvolvimento atípico. Perspectivas em Análise do Comportamento, v. 12, n. 2, p. 83-93, 2021. Disponível em: https://revistaperspectivas.emnuvens.com.br/perspectivas/article/view/750. Acesso em: 13 dez. 2024.
Dixon, M.R., Belisle, J., McKeel, A. et al. An Internal and Critical Review of the PEAK Relational Training System for Children with Autism and Related Intellectual Disabilities: 2014–2017. BEHAV ANALYST 40, 493–521 (2017). https://doi.org/10.1007/s40614-017-0119-4
McKeel, A.N., Dixon, M.R., Daar, J.H. et al. Evaluating the Efficacy of the PEAK Relational Training System Using a Randomized Controlled Trial of Children with Autism. J Behav Educ 24, 230–241 (2015). https://doi.org/10.1007/s10864-015-9219-y
Autor do post:
Luiz Kennedy de Almeida Silva. – Psicólogo (CRP:13/9162), Pedagogo especializado em Psicopedagogia.
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