A rotina visual é uma ferramenta essencial no desenvolvimento e na organização do dia a dia de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Baseada nos princípios da Análise do Comportamento, ela promove previsibilidade, reduz comportamentos desafiadores e facilita a aquisição de novas habilidades. Este artigo apresenta estratégias práticas para a criação de uma rotina visual eficaz, utilizando fundamentos da Análise do Comportamento Aplicada (ABA).

| Por que a Rotina Visual é Importante?

Crianças com TEA frequentemente encontram dificuldades em lidar com mudanças inesperadas ou em organizar suas atividades diárias. A rotina visual:

• Fornece previsibilidade: Reduz a ansiedade ao oferecer um guia claro sobre o que esperar.
• Facilita a compreensão: Muitas crianças com TEA têm maior habilidade em processar informações visuais do que verbais.
• Promove a autonomia: Ajuda a criança a seguir atividades de forma independente.Reduz comportamentos desafiadores: Previne conflitos relacionados à transição entre atividades.

É interessante observar que a utilização de ferramentas para organizar rotinas não se limita a crianças com TEA. Muitos adultos utilizam agendas, aplicativos e sistemas visuais para gerenciar o dia a dia e aumentar a produtividade. Esses recursos proporcionam clareza e estrutura, e o mesmo princípio se aplica às crianças com TEA: oferecer previsibilidade e suporte para lidar com o fluxo de atividades e responsabilidades diárias.

| Passos para Criar uma Rotina Visual

1. Identifique as Atividades Diárias
Liste todas as atividades da criança, desde as rotinas básicas (como alimentação, higiene e vestuário) até momentos de lazer e tarefas específicas. Cada atividade deve ser clara e objetiva.

2. Escolha Representações Visuais
Utilize imagens, fotos, desenhos ou ícones que representem cada atividade. Crianças mais novas podem se beneficiar de representações concretas, como fotos reais, enquanto crianças mais velhas podem compreender símbolos ou palavras escritas.

3. Organize em Sequência Lógica
A sequência das atividades deve refletir a rotina real da criança. Utilize uma ordem fixa, mas flexível o suficiente para pequenas alterações, mantendo consistência sempre que possível.

4. Inclua Transições
Insira avisos visuais ou temporais (como um cronômetro ou cartões de transição) entre as atividades para preparar a criança para mudanças. Exemplos: “Hora de guardar os brinquedos” antes de “Hora do lanche”.

5. Use um Formato Prático

• Quadros visuais: Fixe as imagens em um quadro ou mural, permitindo que a criança veja o dia como um todo.
• Horários portáteis: Crie rotinas em formato de chaveiros ou tiras que a criança pode carregar consigo.
• Tecnologia: Aplicativos e tablets podem ser utilizados para crianças que preferem interagir digitalmente.

6. Reforce o Uso da Rotina
Utilize reforçadores para aumentar a adesão à rotina. Por exemplo, elogie ou ofereça recompensas após a conclusão de uma sequência de atividades.

7. Ajuste Conforme Necessário
Observe o comportamento da criança e faça ajustes na rotina visual, como adicionar ou remover atividades ou adaptar as representações visuais de acordo com a evolução da criança. 

| Considerações Finais

A implementação de uma rotina visual eficaz exige planejamento e consistência. Ela deve ser vista como uma ferramenta dinâmica, que evolui conforme a criança progride. O suporte da família, educadores e terapeutas é fundamental para garantir o sucesso da aplicação. Com uma rotina bem estruturada, crianças com TEA têm mais oportunidades de desenvolver autonomia, habilidades sociais e maior independência no dia a dia.

Referências

• Cividini-Motta, C., & Ahearn, W. H. (2013). Teaching children with autism spectrum disorder to tolerate routine changes: Effects of visual schedules and behavioral interventions. Journal of Applied Behavior Analysis, 46(3), 615-620.
• Mesibov, G., Shea, V., & Schopler, E. (2005). The TEACCH Approach to Autism Spectrum Disorders. Springer.
• Cooper, J. O., Heron, T. E., & Heward, W. L. (2020). Applied Behavior Analysis (3rd ed.). Pearson.

 Autor do artigo 

Joice Maria – Psicóloga (CRP: 13/9917), especialista em Intervenção ABA para Autismo e Deficiência Intelectual, Coordenadora ABA na Clínica Incentivo