Manter os combinados com uma criança não é apenas uma questão de educação formal: é uma estratégia poderosa de regulação emocional, previsibilidade e fortalecimento do vínculo entre adultos e pequenos. Quando um adulto faz uma promessa ou estabelece uma condição e não a cumpre, ele rompe uma ponte de confiança fundamental para o desenvolvimento das habilidades sociais e comportamentais da criança.
Previsibilidade reduz ansiedade
A previsibilidade é essencial para que a criança se sinta segura. Saber o que vai acontecer em seguida permite que ela se organize emocionalmente para lidar com as situações do cotidiano. Quando um adulto combina algo (como “depois do banho a gente vai brincar”) e cumpre, ele está ensinando que o mundo é um lugar seguro, onde as coisas fazem sentido.
O risco de mudar o combinado
Vamos imaginar uma situação: o adulto diz à criança: “Se você guardar os brinquedos, pode assistir desenho”. A criança guarda. Mas, ao final, o adulto diz: “Ah, mas antes precisa tomar banho, almoçar e colocar a roupa”. Essa mudança na expectativa é frustrante. Não apenas atrapalha o reforço natural do comportamento adequado (guardar os brinquedos), como gera confusão sobre o valor da palavra do adulto. Na próxima vez, a criança pode simplesmente desistir de colaborar.
Combinado de brincar também é compromisso
É comum que, no meio da rotina corrida, um adulto diga “mais tarde a gente brinca”, como uma forma de adiar o pedido da criança. Mas se esse momento nunca chega, a mensagem que fica é: “meus pedidos não são importantes” ou “não posso confiar”. Por outro lado, quando o adulto cumpre esse combinado, mesmo que por poucos minutos, ele ensina empatia, respeito e valoriza a relação.
Exemplos práticos do cotidiano:
> Na escola, a professora diz: “Após a atividade, vocês vão pro parquinho”. Se o parquinho é cancelado sem explicação, as crianças perdem a referência de previsibilidade.
> Em casa, o cuidador diz: “Se você me ajudar na cozinha, a gente assiste um desenho juntos”. Se a promessa é ignorada, a colaboração tende a diminuir nas próximas vezes.
> Durante o atendimento clínico, o terapeuta afirma: “Depois do treino, vamos jogar aquele joguinho que você gosta”. Se esse momento é retirado sem motivo claro, pode haver quebra de vínculo terapêutico.
Adultos também são modelo
Crianças aprendem observando. Quando percebem que os adultos cumprem o que prometem, passam a internalizar essa conduta como uma forma de respeito e responsabilidade. Manter combinados é ensinar, com a própria atitude, o que significa ter palavra.
Cumprir o que foi combinado com a criança não é mimar nem ceder: é educar com previsibilidade, respeito e consistência. É assim que construímos confiança, incentivamos comportamentos positivos e fortalecemos o desenvolvimento emocional e social da criança. Na dúvida, lembre-se: se prometeu brincar, brinque. Se prometeu esperar, espere junto. É no detalhe do cotidiano que a criança aprende a confiar no mundo e em quem cuida dela.
Autor do post:
Bruna Araújo – Pedagoga, especialista em Análise do Comportamento Aplicada e Coordenadora ABA.
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