O desenvolvimento infantil é um processo contínuo e complexo, com mudanças físicas, cognitivas, emocionais e comportamentais que acontecem ao longo da vida. Para entender e acompanhar esse processo, especialmente nos primeiros anos, profissionais e pais podem contar com o Inventário Portage Operacionalizado (IPO).

Elaborado por Williams e Aiello em 2001, o IPO é uma adaptação do “Guia Portage de Educação Pré-Escolar” criado nos EUA em 1976 para ajudar crianças com problemas de desenvolvimento em comunidades rurais. Enquanto o guia original não era um instrumento de avaliação, o IPO foi transformado em uma ferramenta para medir o desenvolvimento infantil de forma sistemática e confiável, útil tanto para profissionais quanto para pais.

 

O que o IPO avalia?

O IPO analisa 580 comportamentos em seis áreas principais do desenvolvimento para crianças de 0 a 6 anos:

Estimulação Infantil: Habilidades relacionadas à sensibilidade tátil, visual, auditiva e ao desenvolvimento neuropsicomotor.

Socialização: Habilidades para interagir com outras pessoas, como sorrir em resposta a expressões faciais, imitar um adulto e brincar com outras crianças.

Cognição: Funções mentais como compreensão, aprendizado, pensamento crítico e processamento de informações.

Linguagem: Comunicação verbal e não verbal, incluindo a repetição de sons e a formação de frases.

Autocuidado: Atividades de vida diária como alimentação, higiene pessoal e vestimenta.

Desenvolvimento Motor: Crescimento do corpo e maturação do sistema nervoso, refletindo mudanças em habilidades motoras amplas e finas.

O IPO se mostrou útil para descrever e avaliar o repertório de 976 crianças com 19 síndromes diferentes e em sete condições de risco. Ele pode ser aplicado em diversos locais, como residências, clínicas, escolas e centros universitários, e tem sido utilizado para descrever, planejar, monitorar, intervir e avaliar o desenvolvimento infantil.

A Pesquisa e a Importância da Intervenção Precoce

Um estudo descritivo e exploratório utilizou o IPO para avaliar, a partir da perspectiva materna, o desenvolvimento de 30 crianças de 0 a 2 anos, nascidas a termo e prematuras. O objetivo era detectar precocemente possíveis sinais de alterações.

Os resultados mostraram que algumas áreas do desenvolvimento de crianças nascidas a termo e prematuras apresentavam atrasos. Por exemplo, no grupo de 0 a 1 ano, somente a área de estimulação infantil estava apropriadamente desenvolvida, enquanto as outras estavam, em sua maioria, em desenvolvimento ou em atraso. Já para o grupo de 1 a 2 anos, a socialização estava desenvolvida, mas as áreas de cognição, linguagem, autocuidado e desenvolvimento motor apresentavam itens em atraso ou em desenvolvimento.

Esses resultados sugerem que a identificação precoce de fatores de risco e atrasos é essencial para iniciar uma intervenção precoce. A intervenção precoce é um trabalho de equipe multidisciplinar que atende às necessidades da criança e sua família.

O papel do profissional, como o terapeuta ocupacional, é fundamental. Ele atua tanto com a criança para promover o desenvolvimento de habilidades, quanto com a família, orientando os pais para que se sintam confiantes e se tornem participantes ativos no processo de estimulação.

Embora o IPO seja uma ferramenta útil, ele é um inventário comportamental e não uma escala de desenvolvimento padronizada, e, por si só, não fornece um diagnóstico. Seus resultados são voltados para o planejamento de intervenções. A literatura sugere que a combinação do IPO com outras terapias e, se necessário, medicação, pode oferecer os melhores resultados.

O sucesso reside em adequar as técnicas ao indivíduo, e não tentar encaixar o indivíduo em um protocolo rígido. É por isso que uma abordagem individualizada e focada na família é considerada a melhor receita para que a criança alcance seu potencial máximo.

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

ALMOHALHA, L.; PAGNAN, K. B. S.; SANTOS, L. S. O inventário portage operacionalizado na avaliação e no processo de intervenção precoce. In: Ciências da Saúde: desafios, perspectivas e possibilidades – Volume 3. [S. l.], p. 288–301, 2021.

AIELLO, A. L. R.; WILLIAMS, L. C. A. Inventário Portage Operacionalizado (IPO): Revisão Sistemática. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 37, n. 37545, 2021

 

Autor do post:

Luiz Kennedy de Almeida Silva. – Psicólogo (CRP:13/9162), Pedagogo especializado em Psicopedagogia, Coordenador ABA.