No campo da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), os protocolos de avaliação representam uma ferramenta indispensável para entender as nuances de cada caso. Essas avaliações oferecem diretrizes valiosas que ajudam a identificar habilidades, necessidades e áreas de desenvolvimento para cada cliente. Contudo, embora sejam essenciais, os protocolos de avaliação não substituem a necessidade de um olhar clínico atento e individualizado.
Os protocolos ABA são amplamente reconhecidos por sua precisão e eficácia. Estruturados e baseados em pesquisas científicas, eles foram elaborados para capturar comportamentos específicos e prever caminhos de desenvolvimento. No entanto, uma questão importante é que esses protocolos são, por natureza, padrões generalizados. Embora úteis, eles precisam ser adaptados para respeitar a individualidade de cada pessoa.
Apesar de sua utilidade, os protocolos de avaliação em ABA geralmente concentram-se em medir a quantidade de comportamento observável em áreas específicas, como habilidades de comunicação, interações sociais ou habilidades motoras. Essa abordagem quantitativa é crucial para identificar pontos fortes e áreas de desenvolvimento, mas muitas vezes deixa de lado a qualidade do comportamento e a adequação contextual de sua ocorrência. Ou seja, embora um protocolo possa revelar quantas vezes uma habilidade é demonstrada, ele pode não capturar se esse comportamento ocorre de forma natural ou apropriada ao contexto.
Por exemplo, um protocolo pode indicar que uma criança realiza um pedido de ajuda em várias ocasiões durante uma sessão, mas talvez não leve em conta se ela sabe quando ou como pedir ajuda no ambiente escolar ou em casa, onde as situações e interações sociais são diferentes. A qualidade e a adequação do comportamento são aspectos fundamentais para garantir que a habilidade seja funcional na vida cotidiana. Somente um olhar clínico, atento ao contexto e à singularidade de cada cliente, pode interpretar essas nuances e fazer ajustes na intervenção para que os comportamentos aprendidos sejam genuinamente aplicáveis.
Para os profissionais de ABA, o ideal é ver os protocolos como um ponto de partida, e não um destino final. Eles devem usar esses dados como base, mas também observar ativamente o comportamento e considerar fatores contextuais durante o processo. Isso significa não apenas interpretar números e gráficos, mas fazer perguntas importantes: “Por que esse comportamento está acontecendo nesse contexto?” ou “Como posso adaptar essa intervenção para refletir as necessidades e interesses deste cliente em particular?”
Outro aspecto essencial é a colaboração com a família e outros profissionais envolvidos no tratamento. O uso de protocolos deve ser um processo colaborativo, no qual todos os envolvidos possam oferecer insights adicionais que auxiliem na interpretação dos dados. Essa perspectiva integradora não só aumenta a precisão da avaliação, mas também proporciona um plano de intervenção mais humano e eficaz.
Em resumo, os protocolos de avaliação da ABA são ferramentas valiosas, mas que alcançam seu verdadeiro potencial apenas quando combinados com um olhar clínico atento. Ao integrar ciência e sensibilidade, os profissionais de ABA podem oferecer intervenções que são tanto eficazes quanto respeitosas à singularidade de cada cliente.
Esse texto foi baseado nas convicções do autor do post.
Autor do post:
Dr. Robson Faggiani – Analista do Comportamento, Psicólogo (CRP 13/8413), Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva, Mestre e Doutor em Psicologia Experimental, BCBA-D, QBA.
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